Nunca havia ouvido falar de Elio Petri até há alguns meses atrás. Já que eu sou um devoto aos filmes italianos e não queria ficar limitado a Mario Bava, Dario Argento e Sergio Martino, resolvi fuçar e pesquisar sobre mais diretores italianos até que conheci Peri e li um pouco sobre o seu filme mais conhecido, Indagne su un cittadino al di sopra di ogni sospetto (no Brasil: Investigação Sobre um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita) de 1970. Devo ressaltar que não gosto muito de filmes políticos, mas esse aqui mexeu comigo e eu o considero um dos melhores filmes que eu já vi.
Esse filme é a primeira parte da "Trilogia da Neurose". Os outros filmes são: La classe operaia va in paradiso (1971) e La proprietà non è piú un furto (1973). Esse filme conta com um belo roteiro, ótimas atuações (destaque da atuação de Gia Maria Volonté) e direção de fotografia impecável além de uma direção linda de Elio Petri. O filme ganhou o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro e o Cannes, com razão até porque esse filme é ótimo, crítico e muito irônico.
O filme, escrito por Elio Petri e Ugo Pirro, fala sobre um inspetor de polícia (Gia Maria Volonté) de boa reputação e reacionário (um paulista, não tente entender, é piada interna), mata a sua amante, Augusta Terzi (Florinda Bolkan) para provar testar se a polícia irá acusá-lo. Para isso, ele implanta pistas óbvias e percebe que todo mundo na sua volta está ignorando as pistas e acusando pessoas inocentes. O roteiro é muito bem desenvolvido me impressionou por ele se desenvolver magistralmente. Ele é cheio de ironia e depois de quarenta e cinco anos depois do seu lançamento ele consegue ser atual por falar sobre política poder, então se você ver o filme nem vai parecer que ele é dos anos setenta. O roteiro é interessante também por mostrar cenas em flashback mostrando como era a conturbada relação do Douttore e Augusta.
Meu Deus que direção de fotografia orgásmica! Ela é linda e sem palavras para descrevê-la! A linda cinematografia de Luigi Kuveiller dá destaque nas cores sóbrias e sem vida na Divisão de Homicídios, nas cores do apartamento do Douttore (Volonté) e bem escura no apartamento de Augusta. Esse filme é lindo, e esse é um dos fatores que fazem ele ser melhor do que já é.
Esse Ennio Morriconne dando mais um show com uma das suas melhores trilhas sonoras. A trilha desse filme é engraçada, aparece nos momentos certos e é muito boa. Aqui, Morriconne mais um vez nos delicia com instrumentos estranhos. Ela é daquelas que quando você ouve, ela não sai mais da sua cabeça e você nem se dá o trabalho de tentar tirar ela da cabeça de tão boa que ela é.
A direção de Elio Petri. É linda. Ele abusa quase que sexualmente dos travellings, abusa também dos plano fechados, da câmera sempre em movimento e é bem minimalista, se tornando uma das melhores direções que eu já vi em toda a minha vida. Ele sempre enquadra a câmera na cara da pessoa, ou em algum detalhe, a câmera sempre está contra alguma coisa e ela é meio desfocada em poucas cenas. Gosto de câmeras desfocadas, amo travellings, e os enquadramentos me deixaram com uma sensação de claustrofobia. Amei muito ela.
E sobre as atuações... Volonté é frio quando mata a personagem de Florinda Bolkan já no começo do filme, e é muito boa e muito eficaz e no desenrolar do filme, não se torna maçante e ele começa a damatizar num estilo bem italiano, gritando como um ditador, mas ele é reacionário e coxinha. Uma das coisas que eu mais achei sensacional é o coxinha ter se apaixonado por uma libertina. A diva brasileira Florinda Bolkan esbanja toda a sua sensualidade nesse filme e rouba cena toda vez que aparece como a libertina Augusta. Acho que ela é uma das melhores atrizes da Europa, e me chateio um pouco por ela ter sido esquecida com o tempo. Sobre as outras atuações, elas são boas, ótimas. Os outros dão shows atrás de outros, fingindo não saberem de nada sobre a verdade e as cenas de protesto ficaram bem realistas.
Esse filme é lindo, poético, crítico, sínico, genial e irônico e ele se mantém muito atual nos dias de hoje, já que a corrupção política nunca vai acabar. Um fato interessante é que esse filme se passa justo no país onde começou a política e a corrupção, e ele é mais genial ainda.
Nota: 9,9
Ficha técnica:
título: Indagne su un cittadino al di sopra di ogni sospetto
produção: Marina Gicogna, Daniele Senatore
direção: Elio Petri
roteiro: Elio Petri, Ugo Pirro
com: Gian Maria Volonte, Florinda Bolkan, Sergio Tramonti
direção de fotografia: Luigi Kuveiller
trilha sonora: Ennio Morriconne
duração: 112 min (1hr 52min)
115 min (1hr 55min) (1970) (versão norueguesa)
gênero: drama, crime
data de lançamento: 12 de Fevereiro de 1970 (Itália)
Nenhum comentário:
Postar um comentário