domingo, 16 de agosto de 2015

Indagne su un Cittadino al di Sopra di Ogni Sospetto (Elio Petri, 1970)

  
  Nunca havia ouvido falar de Elio Petri até há alguns meses atrás. Já que eu sou um devoto aos filmes italianos e não queria ficar limitado a Mario Bava, Dario Argento e Sergio Martino, resolvi fuçar e pesquisar sobre mais diretores italianos até que conheci Peri e li um pouco sobre o seu filme mais conhecido, Indagne su un cittadino al di sopra di ogni sospetto (no Brasil: Investigação Sobre um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita) de 1970. Devo ressaltar que não gosto muito de filmes políticos, mas esse aqui mexeu comigo e eu o considero um dos melhores filmes que eu já vi.


  Esse filme é a primeira parte da "Trilogia da Neurose". Os outros filmes são: La classe operaia va in paradiso (1971) e La proprietà non è piú un furto (1973). Esse filme conta com um belo roteiro, ótimas atuações (destaque da atuação de Gia Maria Volonté) e direção de fotografia impecável além de uma direção linda de Elio Petri. O filme ganhou o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro e o Cannes, com razão até porque esse filme é ótimo, crítico e muito irônico.


  O filme, escrito por Elio Petri e Ugo Pirro, fala sobre um inspetor de polícia (Gia Maria Volonté) de boa reputação e reacionário (um paulista, não tente entender, é piada interna), mata a sua amante, Augusta Terzi (Florinda Bolkan) para provar testar se a polícia irá acusá-lo. Para isso, ele implanta pistas óbvias e percebe que todo mundo na sua volta está ignorando as pistas e acusando pessoas inocentes. O roteiro é muito bem desenvolvido me impressionou por ele se desenvolver magistralmente. Ele é cheio de ironia e depois de quarenta e cinco anos depois do seu lançamento ele consegue ser atual por falar sobre política poder, então se você ver o filme nem vai parecer que ele é dos anos setenta. O roteiro é interessante também por mostrar cenas em flashback mostrando como era a conturbada relação do Douttore e Augusta.

  Meu Deus que direção de fotografia orgásmica! Ela é linda e sem palavras para descrevê-la! A linda cinematografia de Luigi Kuveiller dá destaque nas cores sóbrias e sem vida na Divisão de Homicídios, nas cores do apartamento do Douttore (Volonté) e bem escura no apartamento de Augusta. Esse filme é lindo, e esse é um dos fatores que fazem ele ser melhor do que já é.

  Esse Ennio Morriconne dando mais um show com uma das suas melhores trilhas sonoras. A trilha desse filme é engraçada, aparece nos momentos certos e é muito boa. Aqui, Morriconne mais um vez nos delicia com instrumentos estranhos. Ela é daquelas que quando você ouve, ela não sai mais da sua cabeça e você nem se dá o trabalho de tentar tirar ela da cabeça de tão boa que ela é.

  A direção de Elio Petri. É linda. Ele abusa quase que sexualmente dos travellings, abusa também dos plano fechados, da câmera sempre em movimento e é bem minimalista, se tornando uma das melhores direções que eu já vi em toda a minha vida. Ele sempre enquadra a câmera na cara da pessoa, ou em algum detalhe, a câmera sempre está contra alguma coisa e ela é meio desfocada em poucas cenas. Gosto de câmeras desfocadas, amo travellings, e os enquadramentos me deixaram com uma sensação de claustrofobia. Amei muito ela.

  E sobre as atuações... Volonté é frio quando mata a personagem de Florinda Bolkan já no começo do filme, e é muito boa e muito eficaz e no desenrolar do filme, não se torna maçante e ele começa a damatizar num estilo bem italiano, gritando como um ditador, mas ele é reacionário e coxinha. Uma das coisas que eu mais achei sensacional é o coxinha ter se apaixonado por uma libertina. A diva brasileira Florinda Bolkan esbanja toda a sua sensualidade nesse filme e rouba cena toda vez que aparece como a libertina Augusta. Acho que ela é uma das melhores atrizes da Europa, e me chateio um pouco por ela ter sido esquecida com o tempo. Sobre as outras atuações, elas são boas, ótimas. Os outros dão shows atrás de outros, fingindo não saberem de nada sobre a verdade e as cenas de protesto ficaram bem realistas.


  Esse filme é lindo, poético, crítico, sínico, genial e irônico e ele se mantém muito atual nos dias de hoje, já que a corrupção política nunca vai acabar. Um fato interessante é que esse filme se passa justo no país onde começou a política e a corrupção, e ele é mais genial ainda.
Nota: 9,9

Ficha técnica:
título: Indagne su un cittadino al di sopra di ogni sospetto
produção: Marina Gicogna, Daniele Senatore
direção: Elio Petri
roteiro: Elio Petri, Ugo Pirro
com: Gian Maria Volonte, Florinda Bolkan, Sergio Tramonti
direção de fotografia: Luigi Kuveiller
trilha sonora: Ennio Morriconne
duração: 112 min (1hr 52min)
               115 min (1hr 55min) (1970) (versão norueguesa)
gênero: drama, crime
data de lançamento: 12 de Fevereiro de 1970 (Itália)

Nenhum comentário:

Postar um comentário