segunda-feira, 7 de setembro de 2015

La Maschera del Demonio (Mario Bava, 1960)

  Após anos trabalhando na indústria cinematográfica apenas como direto de fotografia e diretor assistente, além de ter completado vários trabalhos não terminados de outros diretores e não seno creditado por isso, Mario Bava já chega chegando lacrando o reto de todo mundo com o seu primeiro filme de terror gótico lançado em 1960 chamado La maschera del demonio (lançado aqui no Brasil como A maldição do demônio). Esse filme é um belo exemplo do cinema fantástico italiano e foi por causa dele que o horror gótico tomou força nos anos 1960.

  Como Bava era um fã das estórias de Nikolai Gogol, ele decidiu que ia adaptar um conto dele, e eis que ele também era fã de Viy, uma estória de Gogol. Bava não fez uma adaptação literal, mas nem precisava já que ele era um diretor foda. Espere uma estória de bruxa, que se passa num castelo gótico a là filmes do Tim Burton (que por sinal diz que esse é o seu filme de terror favorito), e que inclusive nesse castelo há várias passagens secretas e o filme sequencias cheias de suspense e tensão. Também espere encontrar uma certa Barbara Steele novinha com seus 23 anos e interpretando de belas maneiras dois papéis extremamente distintos.


 O roteiro de Ennio de Concini, Mario Serandrei e Mario Bava, não creditado, e levemente baseado na estória Viy de Nikolai Gogol, já começa de um jeito chegou chegando: no século XVII, na época da inquisição, a Princesa Asa Vadja (Barbara Steele) está sendo julgada como sendo bruxa, e isso é verdade, pelo próprio irmão (vejam só!) com Igor Javutich (Arturo Dominici) e joga uma maldição contra todos e é morta sendo a máscara de Satã pregada na sua face, numa cena que mesmo não sendo gráfica, arrepia a coluna. O filme dá um pulo de dois séculos e nos é apresentado os Drs. Andre Gorobec (John Richardson) e Thomas Kruvajan (Andrea Cencchi) que estão indo a um congresso e passam pela aldeia onde a Princesa Vadja fora morta há anos e eis que a roda da carruagem onde estavam se solta e eles fiam por alguns minutos num cemitério e que por coincidência é onde a princesa foi enterrada e como os dois são curiosos vão olhar a tumba da famosa bruxa. Andre deixa Thomas pra trás que está entretido em ver a morta e é quando um morcego o ataca (numa cena um pouco mal feita) e esse fode com tudo. A tumba tinha uma pequena janela onde só a cara de Asa ficasse a mostra, para que se ela voltasse a vida visse o enorme crucifixo de pedra e não ousasse sair do seu leito de confinamento eterno. Pois é, como eu disse, ele fode com tudo por causa de um morcego e Thomas quebra o vidro da janela e pior de tudo: quebra o crucifixo e ainda se corta. Como se não bastasse, quando Andre volta, Thomas tira a máscara de Satã da cara de Vadja. Quando saem de lá, além de conhecerem Katia (Barbara Steele mais uma vez) o par romântico de Andre e com uma incrível similaridade com Asa, revivem a bruxa com o sangue de Thomas. Esse começo poderia soar bem clichê, mas considerando que era o começo dos anos 60, esse plot era bem original.

  A cinematografia desse filme é incrível. É aquela coisa bem gótica e irreal, fazendo com que o filme tenha um aspecto bem surreal, se não onírico. Esse filme prova que Mario Bava era mais do que um ótimo diretor, como também um diretor de fotografia muito bom. Eu acho que ele queria homenagear os filmes de expressionismo alemães e ele consegue de um jeito genial fazer isso, com os seus ótimos jogos de luz e sombra. Também quero falar sobre a caracterização do castelo. Cara, esse castelo deve deixar qualquer um de mão no cu a noite, porque ele é muito assustador! Só de pensar nos corredores mal iluminados dele já lacra um pouco a minha porta dos fundos. Nesse parágrafo também falarei sobre os efeitos especiais desse filme que são ótimos para a época, menos aquele morcego que nem aparece. O seu pai, Eugenio Bava, esculpiu a famosa máscara de Satã e também esculpiu a face decrepita da princesa Vadja já na sua tumba e só tenho elogios para ela. Ainda bem que aqui temos um pouco do progenitor de Mario, mostrando de quem surgiu a genialidade. Os efeitos especiais ficam a cargo de Mario Bava também, e aqui prova que o preto e branco esconde muita coisa. Nota pela cena onde Asa e Katia estão num mesmo plano e nem dá para perceber direito que é efeito especial.

  A direção de Bava é muito boa. Aqui não temos muito uso de zoom close-ups que Bava adorava fazer, mas temos o abuso de travellings e cenas muito bem dirigidas que dá muita tensão, como por exemplo a cena onde Igor Javutich anda pelos corredores sombrios do castelo com o objetivo de matar o Conde Vadja (personagem de Ivo Garrani), pai de Katia e Constantine (Enrico Olivieri). A câmera quase em primeira pessoa passa pelos corredores onde um vento derruba tudo pela frente. Ou quando Katia encontra o Conde morto! Me deu um orgasmo quando a câmera girou para mostrar a face cheia de medo do Conde. E também há as angulações de câmera, muito bem usadas e lindas.

  Também há a linda trilha sonora de Bruno Nicolosi bem boa. Não é o melhor do músico, mas mesmo assim dá vontade de ouvir e mesmo que as cenas românticas protagonizadas por Katia e Andre sejam esquisitas e dispensáveis, dá vontade de ouvir aquela música romântica que deixa a cena mais fofa e ao mesmo tempo maçante ainda.

  As atuações são bem teatrais e se você não tem paciência com atuações teatrais nem veja esse filme. Não que as atuações sejam ruins, longe disso, só que em algumas cenas não são aquela coisa linda de se ver. Pelo menos são poucas essas cenas, e além do mais somos banhados com shows de atuações de Barbara Steele, que consegue interpretar bem a mocinha e a vilã. Até o olhar é diferente o de Katia é doce e angelical, quanto o de Asa é perverso e dá medo, mas dizendo a verdade ela nem precisa se esforçar pra tacar o terror em alguém, ela ó precisa esbugalhar os olhos. O resto do elenco está bom e eu não tenho nada a falar mal, eles conseguem interpretar os seus papéis com maestria.

   Enfim, essa é o primeiro trabalho de Bava creditado, e aqui ele consegue com perfeição alcançar um filme que é um show de atuações e de luz e sombra, além de direção. Pode não ser o melhor trabalho dele, mas mesmo assim é uma obra prima e que deve ser vista por todos e na opinião do que vos escreve, deve ser o filme mas influente do terror moderno. Aprecie um pouco do cinema fantástico europeu e um pouco do mundo de Mario Bava.
nota: 9,0

Ficha técnica:
título: La maschera del demonio
produção: Massimo de Rita
direção: Mario Bava
roteiro: Ennio de Concini, Mario Serandrei, Mario Bava (não creditado), Marcello Coscia
baseado em: Viy, de Nikolai Gogol
com: Barbara Steele, John Richardson, Andrea Cecchi, Ivo Garrani, Arturo Dominici, Enrico Olivieri
cinematografia: Mario Bava
trilha sonora: Bruno Nicolosi
duração: 86 min (1hr 26min)
cor: Preto e branco
maquiagem/efeitos especiais: Mario Bava, Eugenio Bava
data de lançamento: 11 de agosto de 1960

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